Na imagem, o capelão Luis Maria Padilla vai para o meio da rua, no lugar conhecido como La Alcantarilla, em Puerto Cabello, durante El Porteñazo, para resgatar um soldado ferido nos momentos cruciais do tiroteio, colocando-o em seus braços, para tentar ajudá-lo.
A fotografia, registrada por Hector Rondon para o jornal La Republica, foi premiada em 1963 com o Prêmio Pulitzer de Fotografia. A imagem foi distribuída pela Associated Press e apareceu em muitas revistas ao redor do mundo, sendo capa, por exemplo, da revista Life (em espanhol), logo após o incidente.
El Porteñazo: A Revolta de Puerto Cabello
O levante aconteceu durante o governo democrático de Rómulo Betancourt (partido Acción Democrática – AD), o primeiro presidente eleito após a queda da ditadura de Marcos Pérez Jiménez. O governo de Betancourt enfrentava forte oposição de setores militares descontentes e de grupos de esquerda radicalizados (ligados ao Partido Comunista da Venezuela – PCV e ao Movimento de Esquerda Revolucionária – MIR), que haviam formado as Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN) e promoviam a luta armada.
O “El Porteñazo” foi liderado por militares rebeldes (principalmente da base naval de Puerto Cabello) com apoio de civis militantes de esquerda. O objetivo era derrubar o governo de Betancourt, considerado por eles como subserviente aos interesses estrangeiros e repressor. Os rebeldes tomaram o controle da base naval e de pontos estratégicos da cidade portuária. O governo central reagiu rapidamente, enviando forças leais (Exército, Força Aérea e Marinha) para reprimir a insurreição. Houve intensos combates nas ruas da cidade e dentro da base naval, incluindo bombardeios aéreos e artilharia.
O Confronto
O Porteñazo ou a “Revolta de Puerto Cabello” foi uma revolta da base naval de Puerto Cabello, na Venezuela. Na madrugada de 2 de junho de 1962, uma rebelião liderada pelos oficiais Manuel Ponte Rodriguez, Pedro Medina Silva e Victor Hugo Morales, ocorreu na base naval de Puerto Cabello. As tropas do governo lutaram frontalmente contra o batalhão de fuzileiros navais das forças rebeldes do General Rafael Urdaneta. (que havia se juntado a revolta dos oficiais e soldados da base naval e grupos civis armados por estes) e as tropas do batalhão Carabobo, leais ao governo venezuelano, que haviam se deslocado desde Valência, sob o comando do coronel Alfredo Monch.
O levante foi brutalmente reprimido pelas forças governamentais após vários dias de luta. A repressão foi severa, resultando em um alto número de mortos e feridos, tanto civis quanto militares. No dia 3 de junho, o Ministério do Interior da Venezuela anunciou que as forças armadas leais ao governo deram fim à rebelião que havia deixado mais de 400 mortos e 700 feridos. Três dias depois, depois da captura dos líderes da revolta, caiu o último reduto dos rebeldes, o Forte Solano. Posteriormente, verificou-se a participação nos eventos de “Porteñazo” de políticos ligados ao Partido Comunista da Venezuela.
Significado Histórico
O “El Porteñazo”, juntamente com o levante anterior conhecido como “El Carupanazo” (maio de 1962), são marcos dos desafios enfrentados pela democracia venezuelana em seus primeiros anos e do início de um período de conflito armado interno. A famosa fotografia do padre Luis María Padilla tornou-se um ícone visual desse evento e da violência do conflito.
Em um poema dedicado a Puerto Cabello, o escritor e poeta Juan Camarasa Brufal, incluiu alguns versos dedicados ao fato ocorrido na foto (original em espanhol):
“En medio de tu dolor,
un ángel te mandó Dios,
que sin miedo ni pavor,
era solo…, y el herido dos
Sus alas fueron dos brazos
levantando los heridos;
las balas respetaban sus pasos,
al oír los tristes gemidos
Eres tú, capellán Padilla,
un ángel de paz y amor;
que germine esta semilla,
y no habrá tanto dolor.”
Tradução
Em meio a sua dor,
Deus mandou um anjo,
que sem medo e pavor,
estava sozinho… e dois feridos
suas asas eram dois braços
levantando os feridos
as balas respeitavam seus passos,
ao ouvir os tristes gemidos
Era você, capelão Padilla,
um anjo de paz e amor;
que germine essa semente,
e não haverá tanta dor.
Comentários do Autor
A imagem proporciona para o espectador a brutalidade imediata do conflito. Não são representações, mas registros diretos da destruição, do perigo iminente e, acima de tudo, da violência da guerra. A atmosfera de tensão, a presença de soldados armados e os sinais de destruição transmitem o sofrimento e o medo inerentes a uma situação de guerra urbana.
[OBSERVAÇÃO] A foto acima é erroneamente descrita em vários blog e sites do mundo inteiro como sendo o exato momento em que o soldado se ajoelha e pede perdão ao padre.