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HMS Glowworm: A Batalha Naval Mais Gloriosa da Segunda Guerra Mundial

Uma pintura dramática em preto e branco mostrando o HMS Glowworm (destroyer menor à direita, em chamas) se aproximando do Admiral Hipper (cruzador pesado maior à esquerda) em mares tempestuosos. A obra captura perfeitamente a intensidade do combate desigual.

Na manhã do dia 8 de abril de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o navio de guerra britânico HMS Glowworm, liderado pelo Tenente-Comandante Gerard Broadmead Roope, estava em seu caminho para reagrupar-se com a esquadra Aliada no West Fjord da Noruega, quando sob a névoa do Mar da Noruega, avistou e atacou os destroieres alemães Z11 Bernd von Arnim e Z18 Hans Lüdemann. O ataque avariou uma das embarcações alemãs, fazendo com que as mesmas sinalizassem ajuda e recuassem para o norte.

O HMS Glowworm havia se separado da esquadra principal na noite anterior após perder um homem ao mar durante uma tempestade. Enquanto procurava pelo marinheiro perdido, o destroyer ficou isolado e, na manhã seguinte, encontrou-se sozinho em águas hostis, navegando através de uma névoa densa que limitava severamente a visibilidade.

A Batalha Naval entre o HMS Glowworm e o Admiral Hipper

Fotografia autêntica tirada da proa do Admiral Hipper durante o combate. Mostra o HMS Glowworm ao longe, envolvido em fumaça negra e chamas. No topo da foto está escrito "H.M.S. GLOWWORM SINKING" e na parte inferior "AIRCRAFT IDENTIFICATION MARKING". Esta é uma das raras fotografias reais da batalha.

Fotografia autêntica tirada da proa do Admiral Hipper durante o combate. Mostra o HMS Glowworm ao longe, envolvido em fumaça negra e chamas. No topo da foto está escrito “H.M.S. GLOWWORM SINKING” e na parte inferior “AIRCRAFT IDENTIFICATION MARKING”. Esta é uma das raras fotografias reais da batalha.

Dando prosseguimento à perseguição aos destroieres alemães, o HMS Glowworm, navio de 1.345 toneladas, se deparou com o cruzador pesado alemão Admiral Hipper, que pesava 14.000 toneladas e era três vezes maior em tamanho, além de ser mais fortemente armado. Roope sabia que estava enfrentando uma batalha impossível, vez que destroyer tinha apenas quatro canhões de 4,7 polegadas contra os oito canhões de 8 polegadas do cruzador alemão.

Mesmo assim, sem hesitar, o HMS Glowworm abriu fogo contra o navio alemão, conseguindo avariá-lo parcialmente. Durante o combate, Roope disparou dez torpedos contra o Admiral Hipper, mas nenhum atingiu o alvo. O destroyer britânico foi rapidamente atingido pelos projéteis inimigos e começou a pegar fogo, com apenas três de seus canhões ainda funcionando.

Percebendo que sua embarcação estava condenada, Roope tomou uma decisão desesperada e corajosa: ordenou velocidade máxima e direcionou o HMS Glowworm diretamente contra a lateral do Admiral Hipper. A colisão foi devastadora – o destroyer conseguiu rasgar 120 pés (cerca de 37 metros) do casco do cruzador alemão, destruindo também o sistema de torpedos de estibordo do navio alemão.

Final da Batalha Naval Dramática

Já no final da dramática batalha, antes de ser golpeado fatalmente e afundado, o navio da Marinha Real se chocou contra a lateral do Admiral Hipper, fazendo com que um marinheiro alemão fosse derrubado no mar durante a colisão. Após a colisão, o HMS Glowworm ainda conseguiu disparar uma última salva, acertando o cruzador alemão, antes de virar e afundar.

Dos 149 tripulantes do HMS Glowworm, apenas um oficial e 30 marinheiros sobreviveram à batalha naval e ficaram à deriva no mar gelado. Mesmo correndo o risco de ficar exposto a ataques de possíveis navios Aliados próximos, o capitão do Admiral Hipper, Hellmuth Heye, ordenou que todos os sobreviventes fossem resgatados, incluindo o marinheiro alemão que havia caído ao mar.

O Heroísmo do Comandante Gerard Roope

Sobrevientes ingleses são conduzidos a bordo do Admiral Hipper depois da batalha.

Sobrevientes ingleses são conduzidos a bordo do Admiral Hipper depois da batalha.

O tenente-comandante Gerard Roope foi visto ajudando os sobreviventes a colocarem seus coletes salva-vidas, demonstrando liderança até os últimos momentos. Contudo, durante o resgate, Roope não conseguiu segurar uma corda lançada do Hipper e morreu afogado nas águas geladas do Mar da Noruega. Todos os sobreviventes levados a bordo foram recebidos como iguais pelos alemães e os feridos britânicos receberam o mesmo tratamento dispensado aos feridos alemães. Heye ainda foi ao encontro dos sobreviventes e enalteceu a bravura demonstrada em combate pelos marinheiros britânicos.

Um Gesto de Honra Sem Precedentes

À esquerda, Gerard Roope, tenente-comandante do HMS Glowworm, e à direita, Hellmuth Heye, capitão do Admiral Hipper.

À esquerda, Gerard Roope, tenente-comandante do HMS Glowworm, e à direita, Hellmuth Heye, capitão do Admiral Hipper.

O capitão alemão Hellmuth Heye ainda escreveu às autoridades britânicas por meio da Cruz Vermelha, recomendando a atribuição da Cruz Vitória (Victoria Cross) ao tenente Gerard Roope, pela coragem extraordinária de seu oponente ao enfrentar um navio de guerra muito superior. Foi a única vez na história em que a Victoria Cross foi recomendada por um inimigo, simbolizando um gesto que transcendeu as divisões da guerra e reconheceu a coragem pura diante de probabilidades impossíveis.

Na carta enviada através da Cruz Vermelha, Heye escreveu sobre a “bravura excepcional” de Roope e de sua tripulação, destacando que raramente havia testemunhado tal determinação e coragem em combate. O capitão alemão ficou particularmente impressionado com a decisão de Roope de atacar um navio três vezes maior, sabendo que as chances de vitória eram praticamente inexistentes.

Reconhecimento da Bravura

Roope foi a primeira pessoa a ser condecorada com a Cruz Vitória na Segunda Guerra Mundial. O prêmio foi concedido postumamente em Londres no dia 10 de julho de 1945, sendo entregue em 12 de fevereiro de 1946, em uma cerimônia realizada no Palácio de Buckingham, ocasião em que o Rei George VI entregou a medalha à viúva de Roope, que estava acompanhada de seu filho, Michael, que na época servia como cadete da Marinha Real.

Gerard Broadmead Roope havia nascido em 13 de março de 1905, em Taunton, Somerset, filho de uma família com tradição naval. Educado no Royal Naval College em Osborne e depois em Dartmouth, ingressou na Marinha Real aos 15 anos, em janeiro de 1923. Aos 35 anos, já era um oficial experiente e respeitado, conhecido por sua liderança calma e determinação inabalável.

A citação oficial da Victoria Cross de Roope declara:

“Por bravura excepcional em ação. Em 8 de abril de 1940, HMS Glowworm estava navegando sozinho em tempo tempestuoso em direção a um encontro no West Fjord, quando encontrou e enfrentou dois destróieres inimigos, e posteriormente o cruzador pesado Admiral Hipper. Superado em número e armamento, e com seu navio em chamas e severamente danificado, ele lutou sua embarcação até o fim.”

Destino dos Protagonistas

Hellmuth Heye continuou combatendo na Segunda Guerra Mundial, e dentre várias outras honras militares, recebeu no dia 18 de janeiro de 1941, a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro, a mais alta condecoração concedida pela Alemanha para reconhecer atos de bravura em combate ou lideranças bem-sucedidas e decisivas. Ainda em 1941, Heye foi promovido a vice-almirante e em 1942 comandou as forças navais alemãs no Mar Negro. No final dos conflitos, comandou frotas de pequenas embarcações.

Heye nunca esqueceu o encontro com o HMS Glowworm e frequentemente falava sobre a coragem extraordinária que testemunhou naquele dia. Após a guerra, ele manteve correspondência com alguns dos sobreviventes britânicos que havia resgatado, desenvolvendo amizades que duraram décadas. Hellmuth Heye sobreviveu à guerra e faleceu no dia 10 de novembro de 1970, aos 75 anos. Até seus últimos dias, considerava a recomendação da Victoria Cross para Gerard Roope como um dos atos mais importantes de sua carreira naval.

Legado de Honra

A batalha entre HMS Glowworm e Admiral Hipper permanece como um dos exemplos mais puros de coragem naval na história moderna. Em um momento quando a guerra estava se tornando cada vez mais brutal e desumana, o gesto de Heye em recomendar seu inimigo para a mais alta condecoração militar britânica demonstrou que a honra e o respeito mútuo ainda podiam existir mesmo no meio do conflito mais devastador da humanidade.

A história de Gerard Roope e Hellmuth Heye nos lembra que, mesmo nas circunstâncias mais sombrias, a humanidade pode prevalecer. O reconhecimento da bravura transcende conflitos, ideologias e nacionalidades, sendo considerado um tributo universal àqueles que enfrentam o impossível com coragem inabalável.

O HMS Glowworm e seus 118 tripulantes perdidos repousam no fundo do Mar da Noruega, mas sua história de coragem continua a inspirar marinheiros e pessoas comuns ao redor do mundo. É uma lembrança de que a verdadeira vitória às vezes não está em vencer a batalha, mas em como a enfrentamos.

Referências Bibliográficas

  1. Winton, John. The Victoria Cross at Sea: The Sailors, Marines and Airmen Awarded Britain’s Highest Honour. Londres: Pen & Sword Maritime, 2016.
  2. “Gerard Broadmead ROOPE VC — Official Citation and Biography.” Victoria Cross and George Cross Association. https://vcgca.org/our-people/profile/1625/Gerard-Broadmead-ROOPE.
  3. “ADM 1/10584: HMS Glowworm — Action with German Cruiser Admiral Hipper, 8 April 1940.” The National Archives, Kew.
  4. Koop, Gerhard, and Klaus-Peter Schmolke. Heavy Cruisers of the Admiral Hipper Class: Warships of the Kriegsmarine. Barnsley: Seaforth Publishing, 2014.
  5. “Lieutenant-Commander Gerard Broadmead Roope VC — Official Records.” Commonwealth War Graves Commission.
  6. “RM 7/1024: KTB Admiral Hipper, April 1940.” Bundesarchiv–Militärarchiv, Freiburg.
03/10/2025

HMS Glowworm vs Admiral Hipper: a única Victoria Cross da história recomendada por um inimigo. Uma lição de honra no meio da Segunda Guerra Mundial.

Italo Magno Jau

Sou pesquisador independente comprometido com uma investigação profunda sobre geopolítica, história e memória visual. Fui coordenador do Imagens Históricas, que chegou a ser o maior projeto independente do Brasil no biênio 2012-2014, com mais de 1 milhão de seguidores apenas no Facebook. Acredito que compreender o passado com profundidade é uma forma de decifrar o presente e antecipar o futuro. Criei o GeoMagno como um espaço para explorar conexões culturais esquecidas, fatos relevantes e os impactos silenciosos dos grandes acontecimentos sobre a nossa identidade coletiva. Entre arquivos, documentos e narrativas visuais, busco transformar história em uma experiência acessível, rica em contexto e livre de revisionismo e simplificações.