Em 5 de setembro de 1972, o mundo assistiu horrorizado enquanto o maior símbolo de paz e união global, os Jogos Olímpicos, era transformado em um palco de terror. O Massacre de Munique não foi apenas um ataque terrorista, mas também um evento que mudou para sempre a forma como o mundo encara a segurança, a mídia e o conflito no Oriente Médio. A imagem icônica de um terrorista mascarado na sacada da Vila Olímpica, transmitida ao vivo para 900 milhões de pessoas, tornou-se o símbolo sombrio de uma nova era de violência globalizada.
Alemanha Dividida: Os “Jogos Alegres” Que Serviriam de “Antídoto”
Os Jogos de Munique de 1972 foram concebidos para serem um antídoto para as Olimpíadas de Berlim de 1936, que foram instrumentalizadas pela propaganda nazista. A Alemanha Ocidental queria apresentar ao mundo uma imagem de democracia, otimismo e, acima de tudo, paz.. Sob o lema “Die Heiteren Spiele” (Os Jogos Alegres). A segurança era intencionalmente relaxada, com guardas desarmados e uma atmosfera de abertura. Contudo, essa visão idílica ignorava as tensões geopolíticas da época, especialmente o crescente conflito entre Israel e a Palestina. A segurança era tão frouxa que os atletas podiam facilmente escalar as cercas da Vila Olímpica, um fato que os terroristas exploraram.
Invasão da Vila em Munique: O Fim do Espírito Olímpico

Interior do apartamento da delegação israelense na Connollystrasse 31, Vila Olímpica de Munique, após a invasão terrorista de 5 de setembro de 1972. A fotografia, tirada após o massacre, mostra os pertences espalhados, as marcas de violência e os restos de vidas interrompidas — um testemunho silencioso do momento em que o santuário da paz olímpica foi profanado pelo ódio e pela política do mundo real.
Às 4:30 da manhã de 5 de setembro, oito membros do grupo terrorista palestino Setembro Negro, um braço da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), escalaram a cerca da Vila Olímpica. Disfarçados de atletas e usando chaves roubadas, os terroristas invadiram o apartamento da delegação israelense na Connollystrasse 31. A resistência inicial foi brutalmente reprimida: Moshe Weinberg, treinador de luta livre, e Yossef Romano, levantador de peso, foram assassinados. Nove outros membros da delegação foram feitos reféns. As demandas dos terroristas eram claras: a libertação de mais de 200 prisioneiros palestinos detidos em Israel e transporte seguro para o Cairo, Egito.
Cobertura Midiática: O Mundo Assiste ao Vivo
O Massacre de Munique foi o primeiro grande evento terrorista televisionado da história. Por 21 horas, o mundo assistiu, paralisado, enquanto a crise se desenrolava. O jornalista americano Jim McKay, da ABC, tornou-se a voz da tragédia, ancorando a transmissão por 14 horas consecutivas. Essa exposição sem precedentes não apenas amplificou o horror do evento, mas também demonstrou o poder da mídia como uma ferramenta para os terroristas. Como resultado, o número de grupos terroristas internacionais ativos explodiu nos anos seguintes, passando de 11 em 1968 para mais de 50 após Munique.
Operação de Resgate: Uma Sucessão de Erros

Helicópteros no aeroporto militar de Fürstenfeldbruck, onde a tentativa de resgate alemã terminou em catástrofe na noite de 5 de setembro de 1972. Esta imagem documenta o cenário de uma das operações de resgate mais mal executadas da história moderna — um estudo de caso em falhas operacionais que seria estudado por décadas em academias militares e de contraterrorismo.
A tentativa de resgate alemã no aeroporto de Fürstenfeldbruck é um estudo de caso em falhas operacionais. A polícia alemã, despreparada para uma crise dessa magnitude, cometeu uma série de erros fatais: atiradores sem treinamento adequado em combate a terroristas, armas inadequadas (rifles de caça em vez de armas de precisão), falta de comunicação entre as unidades, ausência de equipamento de visão noturna e um plano de resgate fundamentalmente falho.
A equipe de policiais disfarçados que deveria emboscar os terroristas dentro do avião Boeing 727 abandonou a missão no último minuto, mas ninguém informou os atiradores posicionados no aeroporto. Os carros blindados solicitados chegaram tarde demais. Quando os atiradores abriram fogo, os terroristas responderam lançando granadas nos helicópteros onde os reféns estavam amarrados.
O resultado foi a morte de todos os nove reféns israelenses restantes, cinco dos oito terroristas e um policial alemão. Às 3:24 da manhã de 6 de setembro, Jim McKay pronunciou as palavras que resumiram a tragédia: “They’re all gone” (Todos eles se foram). Esta fotografia captura o local onde a esperança de um final pacífico morreu junto com os atletas israelenses.
Consequências: “Ira de Deus” e o Legado de Munique

Fotos dos 11 membros da delegação israelenses mortos nos atentados de Munique. Moshe Weinberg, Jakov Springer, Eliezer Halfin, Amitzur Shapira, Mark Slavin, Kehat Shorr, Joseph Gottfreund, André Spitzer, David Berger, Zeev Friedman e Joseph Romano.
A resposta de Israel foi rápida e implacável. A primeira-ministra Golda Meir autorizou a Operação “Ira de Deus”, uma campanha de assassinatos seletivos conduzida pelo Mossad que durou mais de 20 anos, caçando e eliminando os responsáveis pelo massacre. No âmbito da segurança, o desastre de Munique levou à criação da GSG-9, a unidade de contraterrorismo de elite da Alemanha, que se tornou um modelo mundial. Os Jogos Olímpicos e outros grandes eventos internacionais nunca mais seriam os mesmos, com a segurança se tornando uma prioridade máxima.
Legado Duradouro: Uma Ferida Aberta
O Massacre de Munique deixou uma ferida profunda na história do esporte e das relações internacionais. Foi um lembrete brutal de que nem mesmo o espírito olímpico está imune ao ódio e à violência do mundo real. O evento expôs a vulnerabilidade das sociedades abertas e forçou uma reavaliação global das estratégias de combate ao terrorismo. Mais de 50 anos depois, a imagem do terrorista mascarado na sacada ainda assombra a memória coletiva, um símbolo trágico da perda da inocência e do dia em que o terror invadiu o santuário da paz mundial.
Referências Bibliográficas
- “Munich Massacre.” Britannica. https://www.britannica.com/event/Munich-Massacre.
- Bowcott, Owen. “Police Used ‘Wrong Guns’ at Munich.” The Guardian. https://www.theguardian.com/uk/2003/jan/01/sport.owenbowcott.
- Doubek, James. “50 Years Ago, the Munich Olympics Massacre Changed How We Think about Terrorism.” NPR. https://www.npr.org/2022/09/04/1116641214/munich-olympics-massacre-hostage-terrorism-israel-germany.











Sou pesquisador independente comprometido com uma investigação profunda sobre geopolítica, história e memória visual. Fui coordenador do Imagens Históricas, que chegou a ser o maior projeto independente do Brasil no biênio 2012-2014, com mais de 1 milhão de seguidores apenas no Facebook. Acredito que compreender o passado com profundidade é uma forma de decifrar o presente e antecipar o futuro. Criei o GeoMagno como um espaço para explorar conexões culturais esquecidas, fatos relevantes e os impactos silenciosos dos grandes acontecimentos sobre a nossa identidade coletiva. Entre arquivos, documentos e narrativas visuais, busco transformar história em uma experiência acessível, rica em contexto e livre de revisionismo e simplificações.